Toxicidade no Sistema Reprodutor Feminino
Vários ftalatos têm vindo a ser identificados como tóxicos ao nÃvel da reprodução e desenvolvimento, e considerados quÃmicos de desregulação endócrina. A diminuição da taxa de gravidez e o aumento do aborto espontâneo são dois fatores que têm vindo a ser associados à exposição crónica ocupacional de mulheres a elevados nÃveis de ftalatos. De acordo com estudos realizados, nÃveis elevados de ftalatos na urina estão associados a complicações na gravidez, como a anemia, toxemia e pré-eclampsia.
É fundamental o bom funcionamento dos ovários não só para aspetos reprodutivos mas também a nÃvel cardiovascular, cerebral, do humor e esquelético. Os ftalatos podem exercer então toxicidade nos ovários, interferindo com a foliculogénese ou com a esteroidogénese [1].
Na foliculogénese os ftalatos podem ligar-se aos folÃculos nos diferentes estágios ou ao corpo lúteo. Se a toxicidade dos ftalatos for exercida sobre os folÃculos primordiais, vai resultar uma infertilidade permanente causada por uma falha prematura dos ovários ou uma menopausa precoce. Consequentemente a menopausa precoce está associada a outros problemas de saúde, nomeadamente osteoporose e doença cardiovascular. No caso de os ftalatos exercerem toxicidade sobre os folÃculos em estágios mais tardios ou mesmo sobre o corpo lúteo, problemas como deficiência de estrogénios, ciclos anovulatórios e produção de progesterona afetada são visÃveis, acabando por conduzir a problemas de infertilidade. Contudo, apenas no caso dos folÃculos primordiais serem afetados é que a infertilidade é permanente pois a reserva folicular não é renovável causando um dano irreversÃvel no ovário [1,2].
Os possÃveis mecanismos pelos quais os ftalatos causam alterações ao nÃvel do ovário, num estágio de desenvolvimento inicial, são:
- Resposta anti-estrogénica;
- Aumento do stress oxidativo;
- Modificações hereditárias ao nÃvel do epigenoma;
Os ftalatos podem ainda exercer a sua toxicidade, usando como alvo direto os folÃculos antrais, através de vários mecanismos:
- Inibição do ciclo celular;
- Indução de atresia;
- Aumento do stress oxidativo;
Os ftalatos interferem também com o processo de ovulação e com o corpo lúteo. De acordo com estudos realizados os ftalatos demostraram ter um papel inibitório na ovulação, no entanto, ainda não é conhecido o mecanismo pelo qual o número de corpos lúteos diminui. Ainda assim existem algumas hipóteses de mecanismos possÃveis:
- Inibição da ovulação;
- Inibição da transição luteal;
- Destruição direta do corpo lúteo;
Estes mecanismos de toxicidade foram estudados em modelos animais. Em humanos não existe muita informação, no entanto, os poucos estudos realizados têm demonstrado que os ftalatos têm a capacidade de modular genes associados à foliculogénese [1].
Na esteroidogénese tanto os folÃculos antrais como o corpo lúteo são importantes para manter a funcionalidade normal do ovário. No entanto, os ftalatos conseguem interferir com estas estruturas por diminuição do mRNA, proteÃnas e/ou da atividade das enzimas responsáveis pela produção de estradiol ou pelo aumento do mRNA, proteÃnas e/ou da atividade das enzimas responsáveis pela metabolização do estradiol. Desta forma a gravidez não consegue ser suportada devido a quantidades insuficientes de progesterona e estradiol. A esteroidogénese está assim associada à infertilidade, mas também ao aumento do risco de certas patologias como a osteoporose, doença cardÃaca e perturbações de humor.
Os mecanismos pelos quais se pensa que os ftalatos possam exercer toxicidade na esteroidogénese são:
- Inibição do crescimento dos folÃculos antrais (alterações nos nÃveis de mRNA de Ccnd2, Ccne1 e Cdk4);
- Indução da atresia (alterações nos nÃveis de mRNA de Bax, Aifml, Bcl2 e Bcl2l10);
- Aumento do stress oxidativo (aumento em ROS e alterações na atividade da SOD1 e da proteÃna GPX);
- Diminuição dos nÃveis de enzimas esteroidogénicas;
A produção de estradiol é suprimida por diminuição dos nÃveis de mRNA, dos nÃveis de proteÃna e da disponibilidade da aromatase. Esta inibição da transcrição da aromatase parece ocorrer devido à ativação de PPARs pelos ftalatos. Os ftalatos contribuem ainda para a diminuição da produção de progesterona.
Estes dados provém de estudos in vitro e modelos animais e, apesar de já existirem alguns estudos em humanos, mais devem ser realizados de modo a ser percetÃvel os mecanismos pelos quais atuam e exercem toxicidade [1].
Referências:
[1] Hannon PR, Flaws JA (2015) The effects of phthalates on the ovary. Frontiers in Endocrinology 6:1-19.
[2] Grindler NM, Allsworth JE, Macones GA, Kannan K, Roehl KA, Cooper AR (2015) Persistent Organic Pollutants and Early Menopause in U. S. Women. PLos ONE 10:1-12.